domingo, 22 de novembro de 2009

Visitantes da Fundação Bill Clinton


Valmir Fachini recebe os visitantes nos projetos de Kay Noue e apresenta o funcionamento do sistema.
Foto na região dos lagos de reciclagem.


Acesso aos sanitários que fazem parte do projeto.

sábado, 21 de novembro de 2009

A Permacultura

O próprio criador da permacultura, o ex-professor australiano Bill Mollison, costuma dizer com orgulho que nem ele sabe definir com exatidão o que é a permacultura. “E é isso o que eu gosto nela - não é dogmática!”, afirma. Permacultura é um pacote pedagógico. Um movimento, um método para se alcançar uma cultura sustentável. Por isso, tudo que leva a esse caminho pode entrar em sua definição. O que quer dizer é que ela vai muito além da contração das palavras: permanente e cultura. Pode ser compreendida como um sistema de design para a criação de ambientes produtivos, saudáveis e ecológicos para que possamos habitar a terra sem destruir a vida. Ou seja, através da permacultura o ser humano, como animal que é, integra-se ao ciclo da natureza retirando dela o que precisa para viver e devolvendo a ela o que ela precisa para continuar vivendo. A filosofia da permacultura visa trabalhar com a natureza e não contra ela.

Mollison criou a permacultura em 1970, através da observação atenta da natureza. Por isso, tudo que está dentro dela faz sentido e está conectado, assim como o mundo que nos envolve. O melhor meio de entender a permacultura é através da prática, das ações permaculturais. Nas escolas africanas o alimento está sendo produzido onde antes só havia pó: permacultura. Na Austrália muitas escolas estão formando oásis abundantes de alimentos para serem consumidos no lanche: permacultura. Em Cuba o governo tem recolhido lixo orgânico nas casas e devolvido terra de primeira qualidade para quem quer ter uma horta no quintal: permacultura. No Ecocentro IPEC, em Pirenópolis, Goiás, as fezes humanas viram adubo para as plantas e a água consumida vem da chuva: permacultura.



A permacultura é assim, dinâmica. E apesar de parecer algo que contempla apenas o campo, ela pode ser usada em qualquer lugar, em um apartamento, na cidade, nos subúrbios, em propriedades rurais, em espaços comunitários, pátios industriais ou escolas. Todas as ações conscientes que barram a relação de consumismo do ser humano com os recursos naturais do mundo e criam um ciclo saudável, são formas de permacultura.

Reciclar é um bom exemplo de como ser um permacultor. Reciclar o máximo possível faz sentido. Isto economiza energia, espaço utilizado para aterros e dinheiro. Os produtos orgânicos devem ser compostados corretamente e retornados a terra. Eles enriquecem o solo e ajudam a aumentar a produção. Outros produtos podem ser reaproveitados para uso doméstico. Latas, potes e garrafas, por exemplo, podem servir para guardar alimentos, virar vasos e até luminárias! Transformar o jardim seco e triste da escola em uma área arborizada, também é permacultura.

A permacultura ajuda a ensinar as pessoas a viver de forma sustentável. Como nela nada deve ser desperdiçado (nem alimentos, nem espaço, uma sombra ou energia humana), o ser humano consegue entender que é possível conectar os elementos de nossa vida para que gastemos menos e geremos mais. O mundo é um só e depende da conscientização de cada um para contribuir no seu cotidiano.

Tetos e Paredes Vivas

Cresce a cada dia em várias partes do mundo a visão de cultivo urbano. O projeto de tetos e paredes vivas do Bel Air fazem parte desta visão. No Kay Nou existem 15 mil metros quadrados de área construída com capacidade para receber cultivos que se adaptam a cada tipo de área. Na primeira laje cultivada, foram introduzidas plantas comestíveis, tubérculos, verduras, mudas de plantas frutíferas, plantas ornamentais, plantas que serão utilizadas em reflorestamento urbano na própria região do Bel Air e nas redondezas de Porto Príncipe.


 
As plantas cultivadas na laje ajudam a controlar o excesso de calor e o consórcio de vários tipos de plantas, de solo, trepadeiras, arbustos, ajudam a controlar o calor para o crescimento das próprias plantas, imitando o que ocorre normalmente na natureza. Os cultivos feitos no Kay Nou servem também para demonstrar o quanto é possível se cultivar em áreas urbanas e o quanto isto reduz o consumo de energia, já que os alimentos hoje, na sua grande maioria são transportados por centenas ou até milhares de quilômetros. O que conseguirmos produzir aqui, será consumido aqui mesmo sem ter que transportar para fora, nem utilizar meios de transportes que são poluentes.
 

 
As lajes também servem para receber as mudas cultivadas em outras áreas mais sombreadas, para serem rustificadas, para depois irem para locais definitivos e crescerem sem problema de adaptação, porque já foram preparadas para o sol forte e condições adversas. Este processo é importante principalmente para as mudas que servirão as áreas de reflorestamento.

Toaletes Públicos

Os sistemas de latrinas existentes em Bel Air são insuficientes para atender as necessidades da população. É comum ver as pessoas se agachando para fazerem suas necessidades fisiológicas nas calçadas. Nas áreas mais baixas esta situação é ainda mais grave, porque não existe nenhum tipo de latrina, ou as que existem, como no mercado principal, custam caro e as pessoas acabam utilizando as calçadas e o próprio canal.


Os toaletes do Kay Nou foram construídos pelo Viva Rio para dar início ao processo de saneamento com visão integrada, onde quem gere os toaletes são os próprios moradores organizados em grupo de trabalho, com vistas a formação de uma micro empresa gestora de toaletes. Havendo possibilidades de replicar este tipo de projeto em outras partes do Bel Air e região, muitos outros grupos poderão ser formados para trabalhar administrando toaletes. As pessoas são treinadas para receberem bem as pessoas, dar informações básicas de higiene pessoal, e cuidarem bem do ambiente que servirá a muitas pessoas. O próprio grupo de trabalho faz sensibilização junto a comunidade para utilizarem de forma adequada os toaletes. Os adultos pagam GRd 1,00 e as crianças não pagam nada. Crianças de até 13 anos de idade que agora estão utilizando diariamente os toaletes, nunca tinham utilizado na vida.

Biodigestor

O esgoto humano contém menos de 1% de matéria orgânica, que concentrado, forma um volume de biomassa, com alta capacidade energética, e que devidamente utilizada, serve para produzir energia, calor, (biogás) que pode ser utilizado no próprio local pelos moradores, para substituir lenha ou carvão. No Kay Nou, o biogás produzido no biodigestor, vai direto para uma cozinha comunitária em construção, para ser utilizado, tanto para cozinhar alimentos para o pessoal interno, quanto por famílias da redondeza também para cozinhar alimentos. Este sistema de tratamento de excretas pode ser utilizado tanto para comunidades, quanto para uma única família, por exemplo, na área rural. Pode ser utilizado para processar excretas humanas, de animais, de resíduos agrícolas e matéria orgânica em geral.
Em média por pessoa, se produz 50 litros de biogás por dia. Uma família consegue utilizar um queimador por 1 hora dia para cozinhar apenas com as águas servidas da família.


O biodigestor separa a matéria orgânica que decanta no fundo do biodigestor. Um processo de fermentação se inicia primeiro acetogênico, depois acidogênico e por fim, metanogênico, este último responsável pela produção do biogás. O biogás se acumula na cúpula do biodigestor, de onde é removido por uma tubulação que vai diretamente para a cozinha de biogás.

A água rica em nutrientes é filtrada por materiais de contato preparados com garrafas PET para formação de biofilmes e por raízes de plantas cultivadas para remover parte dos nutrientes e para filtrar a água melhorando sua qualidade para reuso em novos ciclos.

O biossólido, de tempos em tempos (normalmente a cada três anos) também é removido, desidratado, processado para utilizar como adubo rico em nitrogênio, fósforo e potássio.

Lagos de Cultivo

Os lagos são a parte aeróbia do sistema e neles ocorrem vários processos físico-químicos, bacteriológicos, que melhoram ainda mais a qualidade do efluente, principalmente oxigenando a água através da multiplicação das algas verdes, que crescem na presença de nutrientes e luz solar.

As algas servem também para alimentar os peixes que crescem nos lagos. Eles se alimentam também nas raízes das plantas macrofitas flutuantes.

As plantas (aguapé e lemna) cobrem a lamina d´água controlando a população de algas e filtrando possíveis excessos de materiais em suspensão na água. As plantas servem também para alimentar os patos e para melhorar o composto e a produção de adubo de excelente qualidade nutricional.




Por fim os peixes servem para alimento humano e a água, em estado de balneabilidade, volta para a natureza para fertirrigar os cultivos na terra através de tubulações instaladas no sub solo.

A água que alimenta todo o sistema vem de captações de água de chuva armazenada em cisternas. Toda a água que evapora pela insolação e que evapotranspira através das plantas, volta filtrada pela natureza através das chuvas.
Os nutrientes que o corpo humano não utiliza quando é alimentado, cerca de 80%, é reciclado no biossistema integrado e devolvido a terra para iniciar novamente seu ciclo de produção. Não devemos seguir tirando da terra mais do que ela pode dar e sempre que for possível, devemos devolver a maior parte da biomassa produzida por ela para que se mantenha equilibrada.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Zona de Raízes

Zona de raízes sobre o biodigestor e na sequência cultivadas com plantas colhidas nas redondezas de Porto Príncipe.

Preparação da área de reciclagem composta por brejo construído, tanque de aguapé, tanque de lemnas e tanque de peixes; na sequência a água retorna para fertirrigação das plantas no interior do espaço construído, horto e para reabastecer as descargas dos banheiros públicos.

Colocação de PETs, camada de entulho grosso, seguido por brita 4, areia grossa e finalmente recebem o cultivo de macrofitas emergentes.

Grupo de mulheres trabalhando na seleção de 50 mil garrafas PETs para formar cada zona de raízes do biodigestor e da área de reciclagem.